Falando Nisso, Esporte: 03/01/2012

terça-feira, 13 de março de 2012

A Jornada

"Quero, um dia, poder dizer às pessoas que nada foi em vão... que o AMOR existe, que vale a pena se doar às amizades a às pessoas, que a vida é bela sim, e que eu sempre dei o melhor de mim... e que valeu a pena!"
Adriana Britto

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Giribita

Parece que era o nome de uma cachaça e passou a ser, no uso vulgar, o segundo nome de Valdemar Morais, operário de salina. Tinha uma boa voz, tocava violão, se bem me lembro, e cantava imitando Orlando Silva, por tudo que era boteco da cidade, onde era morto e vivo. Tudo que ganhava era só pra beber, andava maltrapilho e de pé no chão, chapéu de palha na cabeça. Era negro.
Da pessoa dele, o apelido "giribita" passou a ser termo de comparação para toda pessoa que não queria nada com nada, vivendo na aventura e na irresponsabilidade total. Mas, vida errada neste sentido, era Giribita um sujeito de todo inofensivo e muito respeitador, também muito falante, e até se expressava bem, na comparação com os de sua ambiência. Assim, todo mundo gostava dele.
Direi mesmo um boêmio no melhor sentido da palavra. Um filósofo da vida. Ou, ainda, um poeta no sentido que à palavra deu a verve popular. Como disse, todo mundo gostava do negro Giribita, e o dr. Raimundo Soares, advogado de reconhecida competência, aqui no estado e fora dele, não fazia por menos. Boêmio intelectual, fazia-se acompanhar de Giribita em suas farras em Areia Branca.
Desde o tempo de estudante. Não chegava em Areia Branca de férias da Faculdade de Direito do Recife, pela qual se graduara, que não mandasse ir atrás de Giribita, mais encontrável na velha Quixambeta. Até mesmo já advogado com banca usufruindo o mais alto prestígio nos sítios forenses aqui de Mossoró - homem sem o orgulho dos de sua condição social como era. Raimundo nasceu assim.
A Quixambeta, acho que devo explicar, era uma ruazinha de casario de taipa igual, ali do lado do cemitério, de mulheres da vida e botecos de cachaça. O nome nunca soube de onde veio, nem o que o indica, somente que foram os vapozeiros que o trouxeram de algum lugar, e pegou no uso vulgar do nosso povo. Não terá sido do meu tempo a Quixambeta, ou então eu era menino pequeno nesse tempo. .
Quando eu voltei de Santos, ali pelos começos de 1960, já não encontrei Giribita na paisagem humana de Areia Branca. Tinha ido embora para uma das praias ali do lado da Barra, morar com a única irmã, e parente no mundo, e lá havia morrido. E eu até hoje não sei imaginar uma salina sem Giribita cantando à porta do rancho, pelo cair da tarde, as músicas de Orlando Silva, que sabia imitar.

Prof. José Nicodemos, Jornal DeFato.com,.de 06/09/11

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